- 10/09/2025
Hoje, 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. A data nos faz pensar sobre a importância do cuidado com a saúde mental, especialmente, de pessoas que sobreviveram a acidentes com queimduras. Longas internações, muita dor, tratamento que dura anos, sequelas e cicatrizes. Tudo isso tem um impacto imenso na vida das vítimas.
Conforme destaca a psicóloca do Hospital de Clínicas de Itajubá, Maria Vilela Pinto Nakasu, estudos realizados em grandes centros internacionais de referência apontam que sobreviventes de queimaduras têm um risco significativamente maior de apresentar ideação suicida e tentativas de suicídio, embora os casos de suicídio consumados sejam relativamente raros.
“Além disso, pesquisas longitudinais indicam que esses pacientes recorrem com mais frequência aos serviços de emergência por automutilação e apresentam maior demanda por atendimento em saúde mental, sobretudo por ansiedade e transtornos de humor. Esses dados reforçam a importância de acompanhamento psicológico contínuo e multidisciplinar”, frisa a psicóloga.
Os centros de tratamento especializados em queimaduras possuem protocolo de atendimento psicológico, que já começam no período inicial da internação, tanto com a vítima quanto com os familiares.
De acordo com as psicólogas Andressa de Oliveira e Daniela Silva Lopes, de um Centro de Tratamento de Queimaduras de Minas Gerais, o atendimento inicial visa promover espaço de escuta, acolhimento e auxílio nas estratégias de enfrentamento diante a hospitalização e adoecimento.
“A gente inicia o quanto antes, sempre respeitando o momento adequado, estabilidade do quadro e possibilidade de intervenção. Isso, independente da idade, do tipo ou proporção da queimadura. Todos são avaliados e se identificada a necessidade, acompanhados durante a internação e posteriormente encaminhados”, frisa Andressa.
Pós-alta
A psicóloga Maria Vilela destaca que continuar o acompanhamento após a alta é de extrema importância. “Inclusive, os estudos mostram que os impactos psicológicos negativos, como o desenvolvimento de sintomas de Transtorno de Estresse Pós Traumático (TEPT), surgem após o período de internação, quando a pessoa já está em casa e se vê frente ao desafio de retomar suas atividades diárias”, completa.
Outro aspecto fundamental é envolver a família no processo. Frequentemente, os familiares também chegam fragilizados, sobrecarregados e cheios de dúvidas. O psicólogo atua para facilitar a comunicação entre paciente, família e equipe, evitando ruídos que possam aumentar a ansiedade.
Como conseguir atendimento?
Pacientes que dependem exclusivamente do SUS e moram distantes de grandes centros de cuidado podem vir a enfrentar dificuldades, como filas de espera para atendimento psicológico individual, menor regularidade nas sessões, o que pode prejudicar a manutenção dos ganhos emocionais após a alta hospitalar. Neste contexto, associações de pacientes e grupos de apoio possuem um papel fundamental, pois oferecem suporte gratuito contínuo, espaços de escuta e cuidado e compartilhamento de experiências.
Contar com uma rede de apoio é essencial para aliviar a carga. “Ter uma rede de apoio sólida, composta por familiares e amigos, pode auxiliar no atravessamento do momento vivenciado e proporcionar conforto emocional”, destaca a psicóloga Daniela Silva.
Crianças
Segundo a psicóloga Maria Vilela, o atendimento a crianças possui suas particularidades. “Junto a elas devemos ter cuidado redobrado, pois para muito além da gravidade física da queimadura, o trauma produz enorme vulnerabilidade psicológica e social, sobretudo porque as crianças ainda estão em fase de desenvolvimento emocional e cognitivo: isto significa que elas processam a dor, o medo e as mudanças corporais de forma diferente dos adultos”, frisa.
É muito comum elas sentirem dificuldade em verbalizar os sentimentos, de compreender a gravidade da situação e também de confiar nos profissionais que cuidam delas. “Isto sem considerar que alguns casos podem envolver risco de negligência ou abuso, seja por acidente doméstico mal supervisionado, seja por situações de violência. Por isso, nestes casos, o psicólogo deve trabalhar mais próximo ao assistente social e avaliar sinais de vulnerabilidade, desproteção ou situações de risco”, complementa.
A psicóloga deu 10 dicas que podem ser úteis para a pessoa que estiver sofrendo com os efeitos de uma queimadura:
1. Fale sobre o que sente.
2. Não se cobre.
3. Pequenas conquistas importam.
4. Busque apoio.
5. Use o corpo com cuidado – movimentos leves, respiração profunda e alongamentos ajudam a aliviar tensão.
6. Permita sentir – chorar, rir ou se frustrar faz parte do processo. Reprimir emoções só aumenta o sofrimento.
7. Cuide da rotina – horários de sono, alimentação e pequenas atividades que você gosta ajudam a manter a mente mais equilibrada.
8. Peça ajuda quando precisar.
9. Evite comparações.
10. Nomeie seus sentimentos – dar nome ao medo, à dor ou à tristeza ajuda a lidar melhor com eles e recuperar sensação de controle.