Com uma morte a cada 45 minutos, suicídio é terceira causa de mortalidade mais comum entre jovens

YD Comunicação - 10/09/2022

Entre os métodos utilizados para o autoextermínio, o álcool é um deles. Risco aumentou com a facilidade de acesso pós-pandemia


“Esse não é a solução dos seus problemas. Você pode achar que é, mas no fundo é só ilusão. Se você estiver precisando de ajuda, busque um profissional, mas não tente ceifar sua vida”. O conselho é da recepcionista Lisa Lasley, hoje com 25 anos, e que aos 16 tentou suicídio ateando fogo no próprio corpo. 

O pensamento vai na mesma linha do que aconselha a advogada Maria Cristina Mendes, 32, também vítima de tentativa de suicídio. “Quando me perguntam sobre minhas cicatrizes, conto a história e digo: isso é depressão, não se calem, peçam ajuda quando acharem que a vida não faz mais sentido”, diz ela, que ateou fogo sobre si e teve 75% do corpo queimado, em 2017. Só não morreu porque um dos três filhos pediu ajuda. 

Lisa Lasley considera ter renascido
após sobreviver à tentativa de suicídio


Lisa e Maria Cristina fazem parte de uma estatística preocupante: no Brasil, a cada 45 minutos, uma pessoa morre por suicídio. Porém, para cada morte, há outras 20 tentativas, segundo a Organização Mundial da Saúde. O método é, ainda, a terceira principal causa de morte entre os jovens de 15 e 29 anos.

Conforme lembra o psicólogo do centro de tratamento de queimados do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em Brasília, a tentativa de suicídio vem em momentos específicos, de crise, confusão e tribulação. “No momento de desorientação, de muita angústia e impulsividade, a pessoa vai utilizar o método que estiver mais próximo. E, principalmente, após a pandemia, tornou-se comum nos ambientes, de um modo geral, os frascos de álcool e são justamente esses utilizados por quem tenta tirar a própria vida”, destaca Pedro Barbosa. 

Não há dados oficiais, mas a observação de chefes de centros de tratamento de queimaduras pelo país observaram um aumento no número de pacientes que chegaram às unidades vítimas de tentativa de auto extermínio provocada por uso de álcool. O presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras, José Adorno, por exemplo, conta que esteve recentemente no CTQ do Hran, onde atuou por anos e que de 11 pacientes internados, oito se encaixavam nessa realidade. "Nós precisamos falar sobre isso, fazer um levantamento com números e atuar na prevenção", destaca. 

E se já é difícil um tratamento de vítima de queimaduras por acidente, quando ela é autoprovocada, fica ainda mais. “A pessoa que faz isso já é fragilizada emocionalmente, então, para ela se engajar no tratamento, lidar com as demandas é um desafio”, observa Pedro Barbosa. 

Sendo assim, o atendimento psicológico é primordial, já no ato da internação, para que o profissional conhecer a história desse paciente, o que o levou a cometer o ato, se tem algum transtorno. Assim, será preciso tratar a queimadura e, também, a questão psicológica. 

Segundo Pedro Barbosa, conversar com a família é outro ponto crucial. “A pessoa que tenta suicídio já pode ter tentado outras vezes e, muito provavelmente, poderá tentar de novo. Então, orientamos a família a estar sempre por perto e tirar do alcance do paciente tudo aquilo que possa vir facilitar o suicídio”, destaca. 

Para ele, para além do atendimento da queimadura, o acompanhamento psicológico e psiquiátrico é necessário durante a internação e também na fase ambulatorial deste paciente. 

Superação – Lisa Lasley tentou suicídio na adolescência. Revoltada com os pais que não dava a liberdade que ela queria ter, desejou a própria morte e, durante uma madrugada, jogou solvente sobre o corpo e riscou o palito de fósforo. 

Hoje ela encara tudo como um novo nascimento, mas o caminho não foi fácil.  “Quando o fogo começou, era como se eu tivesse acordado e saí correndo pela casa, meu pai que me achou e tirou minha roupa. O dia foi amanhecendo e eu fui vendo a loucura que eu tinha feito. Eu não queria aquela situação, eu não queria sentir dor, eu não queria morrer”, relembra. 

Lisa conta que após a alta hospitalar, precisou de acompanhamento psicológico. “Eu tinha vergonha do que tinha feito das marcas no meu corpo”, conta ela, que teve 30% do corpo atingido com queimaduras de 2º e 3º graus, queimando cabelo, braço e barriga.  

Para Maira Cristina Mendes, a superação também veio. O incidente com ela ocorreu em 2017, quando não aguentava mais a situação com o, agora, ex-marido que virava noites em bares da cidade onde moram, em Anápolis, enquanto ela precisava trabalhar como manicure e cuidar de três filhos pequenos. 

“A dor que eu sentia com as queimaduras ultrapassava todos os meus sentidos. Meu marido na época me deixou acamada, careca e me trocou por uma novinha. Eu me olhava no espelho todos os dias e não tinha mais autoestima e pensava: o que fiz com a minha vida, poderia somente ter me separado”, relembra ela. “Mas Deus tem um propósito na vida de todo mundo. Hoje estou casada de novo com um marido maravilhoso, tenho meu emprego e sou uma mãe e dona de casa muito feliz”, celebra. 

Ela ainda aconselha: “se você ver um amigo, um familiar que está diferente, sempre pergunte se está tudo bem. Essa pessoa pode estar precisando de ajuda. Ofereça uma conversa, a companhia para ir a um médico. Porque quem tem depressão, basta um minuto achando que a vida não vale mais a pena para fazer algo contra si”, finaliza.

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