- 30/04/2025
A atual representante internacional da Sociedade Brasileira de Queimaduras, a pediatra Maria Cristina do Vale Serra, foi a primeira mulher a assumir a presidência da SBQ ao longo destes 30 anos. Ela esteve à frente da instituição no biênio 2013/2014.
Logo que entrou, já passou por um grande desafio: a tragédia na Boate Kiss em Santa Maria (RS), em que membros da diretoria participaram do atendimento às vítimas naquela época.
Ela é a nossa entrevistada da vez numa série especial de bate-papo com os ex-presidentes que ajudam a contar a história da SBQ.
Quais foram os maiores avanços que conseguiram naquela época?
Entre os maiores avanços foi levar o Brasil para uma união maior latino-americana com a ISB, com a Federação Internacional. A gente já tinha um relacionamento, unir mais, conversar mais, manter a revista sem custo. Fizemos dois congressos com bastante convidados internacionais. Primeiro foi o congresso latino-americano aqui no Brasil, e depois foi um em Gramado, que uniu todo o grupo mais ainda.
Também trabalhamos muito com a prevenção, é claro que a gente não tinha redes sociais, então foram cartilhas, começamos com o site também, era um site mais difícil, tudo um pouco mais complicado, mais caro. A a gente fazia muito o tete a tete.
Outra coisa que a gente trabalhou também foi o CNNA. A gente unificou o CNNAQ brasileiro com toda a latinoamérica. A gente frisou muito o tratamento inicial. A gente montou o CNNAQ junto com o curso ABIC, fizemos uma parceria para ser as mesmas fotos, o mesmo curso, tudo muito parecido, algumas mudanças dependendo da região, tudo visando a melhoria do atendimento desse paciente no pré-hospitalar e na emergência.
O que a senhora acha que mais mudou na atenção às vítimas de queimaduras e, também, na questão da prevenção daquela época para hoje em dia?
O que mudou na atenção é a modernidade, terapia intensiva, agora não se admite um CTQ sem um intensivista, tem que ter respirador. Na época não era tão obrigatório. O que mais mudou na prevenção é a facilidade agora das redes sociais, que você consegue chegar mais perto das pessoas e contribuir mais para a prevenção.
O que representou na sua vida e na sua carreira ter presidido a SBQ?
O que representou para mim é a missão cumprida, é saber que eu fiz um trabalho bom com os amigos que eu tinha, dentro daquela possibilidade daquele tempo, que era outro.
A senhora fez parte da diretoria em outros anos, mesmo que em regional? Se sim, quando e qual?
Da regional aqui do Rio de Janeiro, eu fui presidente, vice-presidente, diretora científica, bastante coisa. Sempre trabalhei também pelo Rio, fizemos boletins, sempre fizemos muito, muito trabalho de prevenção nas escolas e jornadas.
Fui Presidente da Federação Latino-Americana de Queimadura, que a gente conseguiu também unir com Portugal e Espanha, e agora é a Sociedade Hebra-Latino-Americana de Queimadura, e trabalhei também durante dois anos como Presidente da Federação junto com a SBQ, aumentando ainda mais o conhecimento, as trocas, falando sempre de prevenção de cada país, de cada estado aqui do Rio, é sempre um aprendizado.
Até a eleição que escolheu a Dra. Kelly, a senhora tinha sido a única mulher a presidir a SBQ. Enfrentou alguma dificuldade por ser mulher neste cargo?
Eu não tive nenhuma dificuldade para ser mulher, pelo contrário, as pessoas são super gentis, não tive menor dificuldade, sempre consegui as coisas conversando, falando e com a ajuda dos colegas, principalmente da minha diretoria, que era mista também e todos ajudaram muito. Éramos um grupo pequeno e unido. A única dificuldade que eu tive como presidente, não por ser mulher, foi porque a gente teve uma dificuldade financeira mas que conseguiu contornar com os congressos que fizemos e a gente arrecadou bastante, passando a sociedade para o outro presidente com um caixa bem mais gordo do que antes.