- 30/04/2025
Era para ser um momento de descontração e brincadeira com as amigas depois da apresentação na festa junina na escola, mas foi o dia em que a vida de Andrea Rolim mudou para sempre. Ela tinha apenas 7 anos de idade quando se viu em chamas provocadas por álcool enquanto fazia “comidinha” numa lata com feijão cru e água, e fogo no chão.
“Eu rolava tentando apagar o fogo e corria de um lado para o outro. Minha madrinha, que era mãe de uma das meninas que brincavam comigo, ouviu meus gritos e correu para me socorrer”, relembra. Andrea foi levada para o Hospital Regional de Planaltina, no Distrito Federal e, em razão do estado grave em que se encontrava, foi transferida para o Hospital de Base, onde ficou seis meses internada, sendo dois deles em coma e entubada.
O pai não tinha coragem de visitá-la. Levava a mãe ao hospital, que só podia ver a filha através de uma parede de vidro. “Ela quase nem me reconhecia, estava toda enfaixada e careca, pois rasparam minha cabeça por ter queimado meus cabelos que eram compridos e bem loirinhos. A intenção era fazer enxerto de pele e tirar da cabeça, mas decidiram tirar das nádegas. Fiz vários enxertos”, conta.
Para ela, o pior momento era o banho, quando tinha de trocar os curativos. “Mas foi ruim também presenciar a morte de uma menina que ficava no mesmo quarto que eu, que foi queimada com cera”, lembra.
A volta para casa também não foi fácil. Precisou reaprender a andar, ir várias vezes ao hospital para troca de curativo e, aos 12 anos, passou por uma cirurgia paara desgrudar o braço direito, que não esticava. “Meus seios também não desenvolveram. Aos 15 anos eu pedi ajuda ao Dr. Ivo Pytangui para fazer uma cirurgia de reparação e ele me atendeu. Em 2001, fui para o Rio de Janeiro”, conta.
Mas a tão sonhada cirurgia não deu certo, apesar de todos os esforços. Em razão das queimaduras, precisou usar expansor de pele e depois de três meses de espera, a prótese veio, mas poucos dias depois apresentou problemas e precisou ser retirada.
Anos mais tarde, um médico em Brasília sugeriu tentar novamente, mas Andrea não quis. Já havia passado a fase da adolescênia, quando os olhares das outras pessoas incomodavam mais. Também já tinha se casado e tido seu filho, hoje, com 13 anos de idade. “Estou divorciada e não penso em me envolver com mais ninguém”, destaca.
O acidente não deixou somente sequelas físicas, como as marcas pelo corpo, a falta de mobilidade em dedos das mãos e a surdez de um dos ouvidos em razão de uma infecção no tímpano. “Meu psicológico ficou abalado no sentido de que eu não podia chegar perto de álcool nem de faísca de fósforo, pois me dava a sensação de que estava me queimando novamente. Às vezes eu chegava a tirar toda a roupa. No social, eu era muito reservada por vergonha, pois além das marcas de queimaduras eu ainda usava óculos, me achava feia”, detalha Andrea.
Ela nunca passou por acompanhamento psicológico por falta de dinheiro para pagar e pela dificuldade de acesso pela rede pública de saúde. “Eu tenho vontade de fazer, mas apesar de tudo, levo uma vida normal. Penso que sou um milagre e aproveito a segunda chance que Deus está me dando”, diz.
Hoje, Andrea trabalha com o que gosta: é monitora de uma creche conveniada do governo. Antes, foi serventuária da justiça trabalhando por 25 anos em cartório. “Fiz cursos técnicos de secretaria escolar, nutrição e Libras. Hoje tenho muitos amigos surdos. O meu principal foco com as libras é na igreja, interpretando nas missas e eventos da paróquia”, finaliza.