Eu venci: Paulinho Lima não tem superpoderes, mas lutou pela vida como se tivesse...

- 28/02/2025

“Eu vou morrer. Mas eu não posso morrer. Se eu pudesse, eu até morria. Mas tenho minhas filhas, minha família”. Foi esse pensamento que impulsionou Paulinho Lima a lutar pela vida e enfrentar uma situação que, no imaginário, poderia ser enfrentada somente por alguém com superpoderes: com o corpo literalmente derretendo, ele escalou uma parede de pedras, no meio do cerrado em chamas, correu, pulou cercas até chegar a um local onde conseguiu pedir socorro.

O acidente foi em 2019. Morador de uma área rural em Brasília (DF), Paulinho conta que sempre esteve acostumado a lidar com incêndios nas proximidades. Por isso, quando viu o cerrado em chamas, não ficou tão preocupado porque sabia lidar com a situação.

“O fogo já vinha queimando há duas semanas sem parar e eu e minha esposa vimos o fogo caminhando para as residências e estava próximo a uma casa que morava um casal de idosos. A gente ofereceu ajuda”, relembra. “Acordei às 7h da manhã do dia seguinte com o meu vizinho chamando. Fui com abafador, bomba de água e um outro colega vizinho. Começamos a desder a ribanceira combatendo o fogo e conseguimos mudar a direção paar que não atingisse a casa dos idosos”, conta.

Mas, de um segundo para o outro, tudo mudou. “Enquanto a gente estava no paredão da encosta das morrarias, o vento mudou e o fogo aumentou muito.  Não deu tempo de conseguir escalar até o pico do morro. O fogo me abraçou. Eu fiquei dentro da bola de fogo alguns segundos, vendo minhas roupas sendo carbonizadas, meu cabelo esfarelando, minha pele queimando, era uma dor muito absurda”, enumera.

Paulinho gritou por socorro várias vezes, mas ninguém ouvia. “Aproveitei a adrenalina que eu tinha no meu corpo e comecei a escalar, subindo atrás do fogo as pedras quentes. Foi quando eu perdi parte das minhas mãos, carbonizei as pontas dos dedos, consegui chegar até a parte plana, encontrei mais um amigo nosso que foi me conduzindo pela mata. Eu estava perdendo pele, muito sangue, estava ficando cego, tinha queimado por dentro da garganta também, tentando respirar. Cheguei à casa dos idosos, onde minha esposa esstava me esperando”, conta.

Quando o socorro chegou, o levou direto para o Hospital Regional da Asa Norte. “Fiquei internado 60 dias, fiz 40 cirurgias. Entrei no hospital com 47% do corpo queimado. Saí do hospital mumificado, não conseguia fazer minhas necessidades, nem dormir sozinho, nem comer, nem beber água”, relembra, destacando que precisou aprender tudo do zero.

Tempo para pensar

Durante este período de recuperação, veio a pandemia de Covid.  “Foi aí que tive tempo de olhar para o que tinha acontecido comigo. Até então eu estava no modo no qual eu só queria seguir em frente, só queria continuar. Foi a primeira vez que eu chorei”, diz Paulinho, relembrando quantas coisas fez para superar todo o processo. “Fiz fisioterapua, usei malha compressiva, muita terapia alternativa. E daí minha vida começou a começar de novo".

Da vida que tinha antes do acidente, Paulinho trouxe quase tudo. Barista e cozinheiro de formação, já venceu concursos e atualmente conseguiu juntar todas as paixões na atuação profissional: é chef de cozinha em um restaurante na Chapada dos Veadeiros (GO), o que permite a ele o contato direto com a natureza, que ele diz amar desde pequeno.

Além de cozinhar, Paulinho também ama música. “Estudei música a vida inteira. Meu instrumento principal é o violão até hoje e a percussão. Desde criança eu toco”, conta. Outro hobby é ir para a cachoeira, passear, observar as plantas, decorar o nome das plantas.

Prevenção

Do fogo, Paulinho não tirou somente uma lição. Ele usou da experiência para levar para mais pessoas conhecimento sobre como combater incêndios florestais e evitar acidentes. Junto com a esposa, fundou a primeira brigada voluntária florestal do Lago Oeste, região onde mora, chamada Guardiões da Cafuringa, que se desdobrou no Instituto Cafuringa.  

“O intuito é levar a educação ambiental, levar instrução e conhecimento para que mais pessoas se organizem e formem novas brigadas nessas regiões, para que a gente possa proteger o Cerrado”, conta.

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