Fala, presidente! por Rosa Irlene SBQ/Goiás

- 07/08/2020

A coluna quinzenal da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) apresenta a presidente da SBQ regional Goiás, a terapeuta ocupacional Rosa Irlene Serafim. Ela relata os desafios que o estado tem pela frente e os sonhos de melhorias para a área de queimaduras. 

Também à frente da coordenação da organização não governamental (ONG) Núcleo de Proteção aos Queimados, Rosa conta que, com a pandemia do Covid 19, as Ongs estão enfrentando dificuldades para dar andamento aos trabalhos. “O desafio é sobreviver, principalmente nesse momento, onde, mesmo com toda solidariedade, muita gente deixou de ter condições financeiras para ajudar”.

Há quanto tempo trabalha com pacientes queimados? 

Desde 2002, com o meu trabalho de conclusão de curso. A partir de então, esse foi o único tipo de paciente com que eu trabalhei. Atuei na reabilitação física e emocional, através de atividades durante muito tempo. A partir de 2008, passei a coordenar a ONG Núcleo de Proteção aos Queimados, desenvolvendo o trabalho de reabilitação social.

Como foi direcionada para essa área? 

Tive a experiência nos Estados Unidos, junto a um grupo de marinheiros, meu irmão é oficial da marinha. Em uma espécie de treinamento, em Honduras, um oficial se queimou no desmonte de bomba. Na ocasião, convivi com um capitão que teve uma parte do corpo queimada e perdeu um membro, desde então me apaixonei por esse tipo de paciente. Aqui no Brasil, conheci uma professora terapeuta ocupacional, que veio de Fortaleza para Goiás e, vendo meu interesse por queimaduras, me levou no pronto socorro para queimaduras, no Setor Oeste, e ali, começou minha paixão. 

Também sofri a experiência com queimadura na pele. Aos 9 anos de idade, tive a face toda queimada com um bolinho de polvilho quente que estourou. Então, motivos não faltaram para eu me agregar a essa luta.

Além de presidir a SBQ Goiás e a ONG, onde mais atua? 

Desenvolvo, também, o trabalho de reabilitação cicatricial, física e de pele - especificamente de cicatriz - junto ao grupo Piccolo. Atuo tanto no pronto-socorro para queimaduras, como no Instituto Nelson Piccolo e na clínica do grupo em Brasília. 

Além disso, estou vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde, com mandato que finaliza este ano. Estou diretora secretária, também, do meu conselho profissional, o Crefito (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) que iniciamos o mandato esse ano e iremos até 2023.

Já fiz parte da SBQ Nacional como diretora tesoureira. É um privilégio fazer parte desse grupo que luta por uma causa tão delicada e tão forte.

Como é o trabalho com as ONGs? O que pode destacar de positivo e desafiador?

Os desafios são todos os dias. É um trabalho intenso, porque existem pessoas precisando a todo momento. Às vezes têm pessoas que só precisam escutar que existe alguém para dar apoio. Junto à ong, eu atuo como terapeuta ocupacional e realizo o trabalho com atividades artesanais. Eu tenho o propósito de colocar as mães dos pacientes sobreviventes e mulheres sobreviventes para trocarem experiências e executarem atividades juntas. É super rico, é um desafio que vale a pena.

O desafio é sobreviver, principalmente nesse momento em que, mesmo com toda solidariedade, muita gente deixou de ter condições financeiras para ajudar. O terceiro setor tem que ser rediscutido e conversado, porque nessa pandemia ele ficou sem o apoio para executar os seus projetos.

Também temos a dificuldade de fazer a união entre as ongs, pois somos um grupo com pensamentos diferentes, mas com o mesmo objetivo: o de dar apoio e oferecer a condição do sobrevivente ter o seu enfrentamento da melhor forma possível.

Quais conquistas da SBQ Goiás gostaria de ressaltar? 

O estado de Goiás, por ser o pioneiro no tratamento de queimaduras e o fundador da SBQ, de uma certa maneira sempre teve o tratamento de queimaduras divulgado, ampliado e as regionais sempre sobreviveram com uma relação muito intrínseca com a SBQ nacional. 

A SBQ Goiás tem muito a crescer e precisa se empoderar de várias formas, mas isso é uma conquista mais lenta e a SBQ nacional precisa nos dar este empoderamento.

Em Goiás, sem fizemos um trabalho voltado à prevenção, associado às instituições que já existem no estado. Enquanto presidente da SBQ e coordenadora do Núcleo, solicitei audiências públicas para ter o tema em alta. Com ajuda da Tatiane Felix, presidente da Ong Sobreviva, buscamos audiência em Anápolis e, com isso, vieram os projetos do Junho Laranja a nível municipal e estadual, mas meu sonho é que esse projeto seja agregado em todo o estado, mais que isso, que a política pública do estado de Goiás tenha o olhar voltado para o paciente queimado.  

Que desafios Goiás enfrenta no tratamento e prevenção de queimadura?

Oferecer política pública em todo o estado voltada ao queimado, melhorar o tratamento para os queimados e dar condições de um tratamento digno. Fazendo com que, mesmo com sequelas, o paciente possa ser reabilitado, reconstruído e reinserido na comunidade voltando ao convívio social da melhor forma possível. Meu sonho é que a nível de palestra de prevenção, possamos atingir um patamar onde a prevenção seja maior que o número de acidentes.